- Comparação - A comparação como o próprio nome indica, consiste na associação entre dois termos diferentes, mas entre os quais há algo que permite a sua aproximação.
Ex: "Dentro da casa o mar ressoa como no interior de um búzio" (Sophia M.B. Andresen)
- Metáfora - Na metáfora está sempre implícita uma comparação, mas sem quaisquer elementos que explicitem essa associação.
Ex: "Amor é fogo que arde sem se ver" (Camões)
- Imagem - Em sentido lato, a imagem engloba figuras como a metáfora, o símbolo, a alegoria, etc., figuras criadas por meio de uma comparação, de uma relação analógica. A imagem é, pela sobreposição e\ou acumulação de figuras, mais ampla e rica de sugestões que a comparação e a metáfora. A presença da comparação e da metáfora acabam por converter as ideias em representações mais sensíveis, animadas e coloridas:
Ex: "O Mondego, como uma cobra na areia, espreguiça a sua trança de águas mortas"
(Fialho de Almeida)
- Alegoria - A alegoria é um recurso retórico-estilístico em que se fazem corresponder, de modo minucioso e sistemático, um nível de significados literais e um nível de significados figurados. A alegoria pode ser considerada como uma metáfora ou como uma comparação prolongada, devendo o seu intérprete descobrir sob os significados literais e patentes, que em si mesmos têm coerência, outros significados:
"a nau que enfrenta um mar encapelado, dirigida por um piloto firme e hábil, responsável pelo
leme, que sabe evitar os escolhos e vencer as ondas e os ventos contrários"
É uma alegoria multissecular da vida política do Estado, agitada e perigosa, que exige um governante
com coragem e sabedoria.
Como igualmente alegórico é este extracto do Sermão de Santo António aos Peixes, de Padre
António Vieira:
"O polvo, com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios
estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma
brandura, a mesma mansidão."
O polvo aparece aqui como uma notável representação alegórica da hipocrisia com que se mascara
o ser humano e, em particular, alguns membros da igreja.
As personagens de alguns autos de Gil Vicente __ Auto da Barca do Inferno, por exemplo__ são
personagens alegóricas, na medida em que constituem representações do mal e do bem, do vício e
da virtude.
- Sinestesia - Fala-se de sinestesia quando detectamos uma combinação ou fusão de diversas impressões sensoriais__ visuais, auditivas, olfactivas, gustativas e tácteis__ entre si, e também entre as referidas sensações e sentimentos. No fundo, trata-se de um jogo em que a transposição dá origem a metáforas sinestésicas:
Ex: "E fere a vista com brancuras quentes" (Cesário Verde)
- Prosopopeia, Personificação ou Animismo - A prosopopeia consiste em atribuir qualidades ou características humanas a tudo o que não seja humano (ideias, animais, plantas, coisas, objectos inanimados, o irracional, etc.)
Ex: "Entretanto, Lisboa arrojava-se aos meus pés." (Eça de Queirós)
- Metonímia - Consiste em designar uma determinada realidade por meio de um termo que se refere a uma outra outra realidade, mas entre as quais existe uma relação.
Ex: Ter cinco bocas para alimentar = ter cinco pessoas para alimentar.
Ser o Cristo da turma = ser o que sofre todas as consequências.
- Sinédoque - Consiste em exprimir a parte pelo todo, ou o todo pela parte, o plural pelo singular ou o singular pelo plural.
Ex: "o homem é mortal" (= os homens são mortais),
"Que, da Ocidental praia lusitana" => Portugal
- Antítese - É uma figura de construção, mas também de pensamento. Enquanto procedimento literário, e sobretudo poético, a antítese não consiste em confrontar dialecticamente teorias opostas, mas sim apenas em jogar com os contrastes.
Ex: " No terror e esplendor da emoção" (Eça de Queirós)
- Oxímoro - É uma forma de antítese lúdica e paradoxal, que inculca a uma dada expressão dois sentidos teoricamente incompatíveis.
Ex: " Não o sei e sei-o bem"
- Ironia - A ironia pretende sugerir o contrário daquilo que se diz.
Ex: " Que belo empregado tu me saíste!" [= irresponsável, incompetente]
- Hipérbole - Consiste em utilizar termos excessivos e, por vezes, impróprios, como "genial", "fantástico", "sublime", etc.; comparações irrealistas ("Forte como um touro"), abuso de superlativos, com o objectivo de pôr em relevo a ideia exagerada. No fundo, na linguagem corrente ou na linguagem literária, a hipérbole corresponde sempre a um exagero, seja do real seja do imaginário, por excesso ou por defeito.
Ex: "Vê-se ondear um oceano de cabeças"
- Eufemismo - O eufemismo surge como forma de atenuar uma verdade catastrófica, com vista a diminuir a força de impacto que a verdade poderá causar. Mas também poderá haver casos em que o eufemismo pode conter um travo de ironia.
Ex: "Entregar a alma ao criador." (por 'morrer')
"Nunca usava palavras triviais; não dizia vomitar, fazia um gesto indicativo e
empregava restruir." (Eça de Queirós)
- Disfemismo - É precisamente o contrário de eufemismo. Em vez de se atenuar uma dura realidade, opta-se por torná-la real ou mesmo cruel.
Ex: "Esticou o pernil... Foi fazer tijolo...Bateu a bota..." [=morreu]
- Hipálage - Consiste em atribuir a um nome / substantivo um epíteto que apropriadamente se devia atribuir a outro substantivo do co-texto. Trata-se de uma alteração gramatical e simultaneamente semântica, da relação entre um adjectivo e um nome / substantivo: em vez de o adjectivo se encontrar ligado ao nome / substantivo que semanticamente o exigiria, aparece relacionado com um outro.
Ex: "fumar um pensativo cigarro" ( Eça Q.) ['fumar pensativamente um cigarro']
- Anáfora - Consiste em iniciar vários versos ou frases por uma mesma palavra ou grupo de palavras.
Ex: " E negro, negro como a noite morta,
E negro, negro como negro dia,
Senti-me triste como a noite morta.
Porém, de manso, abriu-se aquela porta...
E o Sol entrou!
E para mais, chovia..." ( Pedro Homem de Melo)
- Pleonasmo - Reflecte redundâncias mal formadas, sobretudo do ponto de vista gramatical e lexical.
Ex: "Subi para cima"
"Desceu para baixo"
Em sentido de plenitude é uma figura pela qual se acrescenta á expressão do
pensamento, para reforçar a clareza ou a energia, palavras que seriam inúteis á
integridade gramatical.
integridade gramatical.
Ex: "Vi com estes olhos que a terra hão-de comer"
"Vi claramente visto o lume visto" (Camões)
- Paralelismo - Genericamente, paralelismo significa toda a forma de construção que reproduz um mesmo esquema, sobretudo se se trata de correspondênciasverticais entre as frases.
Ex: "Com estrelas na alma, com visões na mente"; "Bátegas de brasas, turbilhões de
sóis" (Junqueiro)
- Quiasmo - O quiasmo é a figura mais conhecida das que se fundam na simetria. Trata-se de uma expressão construída principalmente por quatro termos, sendo os dois ultimos da mesma natureza dos dois primeiros, mas apresentando uma ordem invertida. O quiasmo aparece quando duas partes de frase ou frases não são construídas paralelamente, mas em oposição como imagem e reflexo. Habitualmente, o quiasmo é representado por uma figura em cruz, ou pela sigla AB BA.
Ex: "A bênção como espada, / A espada como bênção!" (Fernando Pessoa)
- Anástrofe - É um tipo de hiperbáto, mas cuja inversão da ordem natural das palavras na cadeia sintagmática se revela menos violenta.
- Assonância - Consiste na repetição de sons vocálicos.
Ex: "As mãos do mar que vêm e vão,
As mãos do mar pela areia
Onde os peixes estão.
As mãos do mar vêm e vão"
(Alexandre O'Neill)
- Aliteração - Enquanto a assonância recai sobre a repetição de sons vocálicos, a aliteração incide sobre a repetição de sons consonânticos. A aliteração tem, sobretudo, uma função imitativa.
Ex: "Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso..." (F. Pessoa)
- Onomatopeia - Trata-se do emprego de palavras que sugerem sons produzidos por animais ou pessoas, ou ruídos produzidos por objectos ou pela natureza
Ex: Troc...troc...troc...troc...
Ligeirinhos, ligeirinhos.
Troc...troc...troc...troc...
Vão cantando os tamanquinhos...
- Trocadilho ou Jogo de Palavras - Está geralmente associado á combinação ou agrupamento de vocábulos com som semelhante. Em sentido restrito, o trocadilho é entendido como o aproveitamento do sentido duplo de uma palavra.
Ex: "Joana flores colhia
Jano colhia cuidados"
- Hipérbaro - É uma figura de construção que consiste na inversão violenta da ordem normal dos membros de uma frase, podendo manifestar-se pela separação do substantivo e do adjectivo, pela colocação do sujeito ou do verbo no fim da oração, pela alteração do lugar habitual de complementos rigidos preposicionalmente, etc.
Ex: "Casos que o Adamastor contou futuros" (L. Camões)
- Anátrofe - É um tipo de hipérbato, mas cuja inversão da ordem natural das palavras na cadeia sintagmática se revela menos violenta.
Ex: "Longas são as estradas da Galileia" (Eça de Queirós)
- Anacoluto - O anacoluto verifica-se, por exemplo, quando uma oração que parece ser a principal fica em suspenso pelo aparecimento de outra oração que a faz derivar num outro sentido.
Ex: "A noite
__ Como, suave,
muito branca, aos tropeções
Já solene as coisas descia__ E eu nos teus braços deitado
Até sonhei que morria." (António Botto)
- Elipse - Consiste em não utilizar, na frase, elementos que, em princípio, aí deveriam figurar. Trata-se da suspensão de palavras que seriam necessárias á plenitude da construção, mas em que os elementos expressos permitem compreender o sentido completo, sem que haja obscuridade ou incerteza.
Ex: "um automóvel rápido; outro; outro ainda..." (Eugénio de Andrade) [O
indefinido"outro"reenvia para automével]
- Perífrase - Consiste em exprimir por meio de expressões ou frases completas o que seria possível dizer-se numa só palavra ou numa expressão mais breve. Na perífrase, o verdadeiro estado de coisas não nos é fornecido directamente, mas terá de ser deduzido por via indirecta.
Ex: "Lhe dá no Estígio Lago eterno minho" (Camões) => isto é, mata-o
- Enumeração - Consiste na apresentação sucessiva de vários elementos.
Ex: "Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis
Ó coisas todas modernas" (F. Pessoa)
- Assíndeto - É um figura de parataxe que omite os elementos de ligação entre vocábulos ou orações, sobretudo as conjugações coordenativas, e, em particular a copulativa e (geralmente substituída pela vírgula, mas podendo não aparecer qualquer sinal de pontuação). Este procedimento confere maior vigor á frase ou ao verso e produz, entre outras, uma sensação de movimento.
Ex: "Mas o Luso, arnês, couraça e malha
Rompe, corta, desfaz, abola e talha" (Camões)
- Polissíndeto - Contrariamente ao que acontece com o assíndeto, o polissíndeto consiste na repetição intencional da conjugação, visando criar determinadas sugestões, ou pode ocorrer, com ou sem valor sugestivo, para preservar a métrica de um verso.
Ex: "Que as estrelas e o céu e o ar vizinho
E tudo quanto se via namorava" (Camões)
- Gradação - A gradação consiste em dispor os elementos textuais de modo a partir de valores de sentidos mais fracos para sentidos mais fortes ou inversamente. Daí que possamos considerar dois tipos de gradação:
Gradação ascendente, quando a seriação é feita segundo uma ordem em crescendo, isto é, que vai manifestando uma intensificação progressiva.
Ex: "Deu sinal a trombeta castelhana / Horrendo, fero, ingente e temeroso" (Camões)
Gradação descendente, quando a seriação de ideias é feita de forma que as ideias ou os conceitos vão dimuindo de intensidade.
Ex: "Uma pequena coisa, uma insignificância, uma nica, tudo o afligia"
- Pergunta Retórica ( ou Interrogação Retórica) - A utilização da pergunta retórica não pretende obter ou dar qualquer resposta. Ela é introduzida seja para tornar mais vivo o discurso, seja para realçar o pensamento, seja para reflectir sobre algo que é inquestionável.
Ex: "Este inferno de amar__ como eu amo!__
Quem mo pôs aqui n'alma... quem foi?
Esta chama que me alenta e consome,
Que é a vida__ e que a vida destrói__
Como é que se veio a atear,
Quando__ ai quando se há-se ela apagar?" (Almeida Garrett)
- Apóstrofe ou Invocação - Por apóstrofe entende-se uma interpelação a alguém, presente ou ausente, leitor ou ouvinte, personagem ou objecto personificado, humano ou divino. A introdução da apóstrofe interrompe a linha de pensamento do discurso, destacando-se assim a entidade a que se dirige e/ou a ideia que se pretende pôr em evidência com tal invocação.
Ex: "Ó tu, Guarda divina, tem cuidado / De quem, sem ti.." (Camões)
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